segunda-feira, 29 de março de 2010

O efeito bolha da "Pholha"

Abram alas para a alegria! Abraços de emoção e congraçamento na redação do PIG. Lágrimas de emoção e esperança.
Afinal, Serra abriu nove pontos de vantagem sobre a Dilma!
Hora de soltar fogos na porta da Daslu. As mansões do Morumbi revestem-se de bandeirolas azuis e amarelas. As senhoras, à hora do chá da tarde, comentam eufóricas e animadas os índices do datafolha. Dedinhos para o alto, ao som de polca.
Ipi, ipi. Urra!
Miriam Leitão solta um leve sorriso no canto da boca. Cristina Lobo tem orgasmos múltiplos. Diogo Mainardi planeja alugar um apêzinho no Brasil para passar uma temporada.
Estamos salvos!
A política neoliberal está salva!
O sonho da direita, da VERDADEIRA DIREITA, está aceso.
Ainda há esperança de retomar o poder.
Será? Acho que não.
Não há nada de novo no ar que justifique uma subida tão substancial do Zé Alagão nas pesquisas. Muito pelo contrário.
A indefinição do eterno candidato em descer do muro causava urticária no alto escalão tucano. Além disso, a tentativa de fazer uma chapa Serra-Aécio foi pro brejo.
Precisavam fazer algo, senão o governador daria um muxoxo e faria beicinho.
Já dizia FHC, assim não pode, assim não dá.
Eis então que surgem como uma medida salvadora a pesquisa. Um balão de ensaio para dar fôlego de gato a quem estava mais para rato encurralado.
Na verdade, a maioria do país ainda não está se ligando muito sobre quem será o próximo presidente.
Agora, as pessoas estão mais preocupadas em saber quem vai ganhar o milhão.
Ainda tem muita água para rolar até outubro (desculpe, não queria lembrar das enchentes). Tanto para Serra quanto para Dilma, ainda é muito cedo para decidir.
E, francamente, se o Zé Alagão não se cuidar, tenho para mim que ele corre o risco de nem ir para o segundo turno.
É esperar para ver.

 

quinta-feira, 25 de março de 2010

Porra, Dimenstein!

Venho acompanhando de fora os desdobramentos da greve dos professores em São Paulo. Como morador do Rio, não vivo “na pele” o problema, o que me impede de fazer um juízo completo se as reivindicações da categoria são justas ou injustas, se possuem ou não propósito ou se são “partidárias”, apesar de seu caráter político, no sentido primaz da palavra. Agora, reduzir a discussão a uma “greve contra o pobre”, como faz Gilberto Dimenstein, peraí!
O nobre colunista da “Pholha”, um dos tentáculos do PIG, afirma, entre outras coisas, que a greve pode revelar que a categoria é a favor do “absenteísmo” e “contra os méritos para a progressão na carreira”. Em outras palavras, Dimenstein tenta nos convencer de que, em sua maioria, o professor que adere à paralisação é um profissional preguiçoso, que quer sempre receber mais do que merece e que quer mais que o pobre se foda, em todos os sentidos que o termo pode abranger.
Claro que existem maus professores. Aliás, a figura do mau profissional é um mal comum a todas as profissões. No serviço público, então, é responsável por um estigma, quase uma maldição. O problema, a meu ver, parece a falta de um política consistente de formação para a progressão do servidor. E aí, um plano de carreira sério, responsável e coerente ainda é a saída contra as invencionices de gente, como o Sr. Gilberto Dimenstein, que sequer sabe o que significa dar aula em uma sala úmida e mal ventilada em Queimados, na favela da Rocinha ou na Zona Leste de São Paulo e fazer seu aluno acreditar que é o estudo, e não a porra de um fuzil, o passaporte para uma vida melhor.
Não sou contra a política de formação. Também não sou contra cobrar do servidor sua responsabilidade com a população mais carente, seu público e verdadeiro patrão. Sou sim contra a politiquinha cínica e nefasta do acordo do rabo preso, comum nas escolas país afora, na qual a maioria dos governos faz vista grossa e cujo mau profissional adora se abalizar.
Para que haja avanços de fato e de direito para o trabalhador, em prol da população, é preciso:
• Que o sindicato, noves fora a pulverização de tendências políticas e interesses difusos que venha a ter, seja o canal de negociação entre governo e categoria, agindo com compromisso, responsabilidade e coerência diante dos interesses da maioria dos trabalhadores na educação.
• Que o governo, independente de sua corrente ou tendência, mantenha sempre o diálogo com o sindicato, excluindo as diferenças políticas de cada lado, agindo dentro da responsabilidade fiscal e de seu compromisso para o qual foi escolhido pela população.
• Que a população torça para uma solução rápida para o impasse, cobrando tanto do governo quanto do sindicato, soluções que não prejudiquem o andamento do serviço público no futuro.
• E que o senhor, caro Dimenstein, CALE A BOCA!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Quando crescer, quero ser Manoel de Barros

Sou um consumidor voraz de Manoel de Barros. Seus escritos têm a simplicidade de uma pedra, a suavidade do encontro dos rios, o brilho da luz da vela dentro lata e a emoção do primeiro beijo. É único, universal, causístico e caótico. É um de meus heróis.
Quando eu crescer, eu quero ser Manoel de Barros.

Uma Didática da Invenção
do "O Livro das Ignorãnças" ed. Civilização Brasileira.


I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
Dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras

IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.

Hoje eu desenho o cheiro das árvores.

IX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

O julgamento, o clássico, a TV e o Big Brother


Se até o final desta postagem a terra não tremer acima dos 7 pontos na escala Richter em algum lugar do planeta, um avião não cair, o Adriano não sumir e a Amy Winehouse se segurar na rebordosa, o assunto do momento nesta semana será o julgamento do casal Nardoni, indiciados pela brutal morte da menina Isabella.
De uns dias para cá, vivemos um making of de uma superprodução hollywoodiana tupiniquim. Como será o júri, de que forma eles serão escolhidos, quais serão as provas que acusação e defesa irão utilizar. Chamadas sensacionalistas, clima de final de novela, barzinhos lotados à espera do destino dos réus.
O público já se acomoda à porta do tribunal. Faixas, cartazes e um homem fazendo embaixadinhas, esperando ser visto e aparecer no Faustão ou no youtube. O vendedor de cachorro quente se prepara para a movimentação dos próximos dias. O morador do prédio vizinho se enche de esperança. Quem sabe, ele consegue falar algo sobre o seu processo trabalhista, há anos engavetado.
Não interessa mais qual o resultado do Flamengo e Botafogo, afinal, o empate era previsível. Agora, o que interessa é acompanhar a Ana Maria, a Sônia Abraão e o Datena, cada um à sua maneira, darem suas impressões sobre o caso. Choros de indignação e emoção dos apresentadores.
Fundo musical, por favor.
Catarse!
O casal telejornal dá destaque à noite.
A novela comenta o caso. Choros de indignação e emoção das personagens.
Fundo musical? Por favor.
Catarse!
O médium recebe mensagens da menina. O místico sente a dor dos mortos. A boa senhora convida todos para rezarem por sua alma. Choros de emoção e indignação, fundo musical.
Por favor, catarse!
Na sexta-feira, sai a sentença. O resultado? Quem se importa?
Hoje é dia de paredão! Quem vai ganhar o milhão? E a Helena, vai ficar com quem?
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terça-feira, 16 de março de 2010

O santo, o cacique, a falta de luz e a goteira no telhado

Choveu mais uma vez torrencialmente no Rio Maravilha neste domingo. Na verdade, uma SENHORA CHUVA, daquelas que impedem até as carolas de freqüentarem a missa, o culto ou coisa que o valha.
Mais uma vez o caos se instala, bem na hora do pênalti. Falta de luz, telefone mudo, TV fora do ar e a adolescente chora porque não vai ver o Axl Rose.
Mais uma vez, a água entra por todas as frestas da casa, isso quando o esgoto não volta pelo vaso sanitário ou a enchente não invade a sala sem pedir licença.
Puto da vida, você tenta encontrar o culpado pela porra toda. O pedreiro, a light, o prefeito, o cabo da antena ou o Dodô, todos se tornam responsáveis por nos chamar de volta à realidade de moradores da Baixada Fluminense.
O prefeito não pode. Afinal, ele já renovou o termo aditivo com o cacique-pajé-sei-lá-das-quantas. Ou será que o espírito ainda está aguardando a publicação no diário oficial?
A light? Peraí, mas também falta luz na Zona Sul o dia todo! Ah, mas lá o cara pode processar a empresa. Já aqui, a gente tem que aturar, pois o vizinho deu o calote na conta de janeiro...
A Oi? Cacete! Na sua rua o telefone já funciona de vez em quando. O que você quer mais? Velox a dois mega?
O pedreiro se torna o provável vilão. Mas, se você der uma dura no cara, é bem capaz de ele encher o seu ralo de cimento e você só descobrir seis meses depois...
Para piorar, você sequer poderá tomar um banho, porque a CEDAE cortou o abastecimento, e só vai se normalizar no final de semana. Se não chover...
Diante dos fatos, já decidi. O culpado é São Pedro.
Que filho da mãe, sacana!

O início de tudo

Tudo na vida tem um início. O beijo, o gozo, a dor, o viver, o morrer, tudo segue uma ordem natural, embora não pareça ou, aparentemente, não faça o menor sentido. Talvez este seja o propósito deste blog. Nada de começar com textos filosóficos ou teorias mirabolantes. Somente o caos, esta força mirabolante e confusa onde reside o tudo e o nada. Um lugar onde o sentido e o não-sentido coexistem e coabitam, ora interagindo, ora repelindo, mas nunca se impedindo. Sempre acreditei que as grandes descobertas, assim como os grandes amores, começam desta forma: despretensioso, meio sem rumo e um pouco gauche na vida. Somente após um tempo percebemos se valeu a pena o caminho. E mesmo que o objetivo não tenha sido alcançado, que pelo menos a paisagem tenha sido apreciada.
Está iniciado. Que siga seu rumo.
Assim seja.