Nós, os fodidos, não temos refinamento ou cultura acadêmica. Somos chulos, boçais e ignorantes e, por isso, não podemos frequentar o fashion mall.
Nós, os fodidos, não andamos de taxi ou temos carros de luxo. Andamos a pé, apinhados nos trens, nos ônibus para a Central ou dentro de kombis enferrujadas e, por isso, não precisamos de transporte decente.
Nós, os fodidos, não comemos foie gras, caviar ou sequer sabemos o que é möet chandon. Comemos o que vier à frente, desde que tenha um pouco de feijão ou mesmo farinha e, por isso, somos mal vistos nos restaurantes.
Nós, os fodidos, não moramos na cobertura. Vivemos em áreas de risco, nos barrancos e encostas e, por isso, qualquer medida paliativa disfarçada de projeto de urbanização serve.
Nós, os fodidos, não temos nome, sobrenome ou mesmo pedigree. Somos massa, estatística sem rosto, com cara de fome e, por isso, somos destinados a viver e morrer como coisa, esquecidos por Deus e pelos homens.
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